Sobre relevar

Para mim, essa palavra sempre se apresentou como: “não se ofenda por tão pouco”, “na verdade, foi uma brincadeira”, “nossa, quanta agressividade, você deve brincar mais consigo mesma”. E nessa caminhada, fui relevando, relevando, relevando… relevei tanto que o relevo me encobriu. Ri de coisas que me ofendiam, mudei em mim coisas que me tornavam Eu. 
Não gostei da minha pele, do meu cabelo, do meu corpo, mas ninguém se importou com isso, por que? Porque relevei. Relevar pode ser perdoar ou desculpar alguém. Cansei. Cansei de perdoar quem não merecia ou de desculpar quem me ofendia! 
Relevar, pode ser consentir, permitir que alguém o faça. Nunca fui permitida, nem me consentiram existir como mulher, negra e feminista! A permissão sempre foi para a ofensa e o consentimento para a invisibilidade. Não, não permitirei. Não, não consentirei.
Relevar pode ser realçar. Sim, realçar! Realçar minha existência, minha vida, minha felicidade! Minhas manas, aquelas que vieram antes de nós. As coroas das rainhas que nos geraram e das guerreiras que nos criaram. Relevar pode ser importância. Sim, nos é relevante a nossa vida, a nossa arte e a nossa fala. Nossas filhas, nossos corpos!
De tanto relevar, construí um monte, um alto relevo, uma montanha, na qual subi e gritei: eu existo!


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