Mudando de hábitos



Nos últimos seis meses, aqui em casa, fizemos um esforço intenso de avaliar nossos objetos, móveis, roupas, livros, etc em dois aspectos: precisamos deles? Eles servem para mais alguém? Nesse embalo, triamos grande parte das nossas coisas e das coisas dos nossos filhos, pois vamos nos mudar para um lugar menor. Essa experiência nos proporcionou uma reflexão muito potente e eu gostaria de compartilhar essa experiência com meus leitores, pois foi um processo muito interessante e produtivo.

Dentro da categoria dos que não nos serviam destinamos o lixo reciclável para os devidos fins, descartamos pilhas, baterias e remédios nos locais adequados, doamos muita coisa: roupas, utensílios de cozinha, sapatos e objetos de decoração. Além de descarte e doação, vendemos muita coisa, também.

Nesse processo, percebi que temos várias responsabilidades com o mundo em que vivemos - tanto no aspecto social, como no aspecto ambiental. O capitalismo no impele a comprar, comprar, comprar e descartar o que é obsoleto. As coisas estão muito mais baratas e, por consequência, cada vez mais os trabalhadores são mal remunerados, sim, uma coisa leva à outra, pois os preços baixos são fruto de baixos salários e não da diminuição do lucro. O lucro nunca é menor, nunca. 

Essa onda de comprar e comprar é uma irresponsabilidade social, pois a alta produção acontece às custas de sangue de muitos trabalhadores vulneráveis - na grande maioria, mulheres e crianças pobres do terceiro mundo - que não têm melhores opções de trabalho e sustento, pois a terra lhes foi tirada e qualquer outra forma de subsistência lhes é negada. É um irresponsabilidade ambiental, pois estamos abarrotando nosso mundo de lixo, afinal, para onde vai o celular, o plástico, a latinha e outros materiais que são descartados? Pensando nisso, resolvemos reaproveitar tudo o que podíamos, destinar lixo para locais adequados, doar o que era possível e levantar uma graninha com isso - sim, para quem está precisando de grana, vender coisas usadas é uma boa fonte de renda!

Assim, vou descrever o passo a passo dessa mudança de hábitos:



DESCARTE: Vocês sabiam que as empresas têm o dever de arcar com o descarte do lixo que seus produtos geram? Farmacêuticas têm que descartar os remédios; empresas de eletroeletrônicos têm que descartar as baterias e demais metais pesados; empresas que produzem materiais cortantes têm que descartar objetos que são altamente perigosos para os coletores de lixo; empresas de pneu também têm destinar o refugo, que demora muito para se decompor. Sim, ninguém te avisa, mas essa responsabilidade é das empresas! Procure pontos de coleta e deposite no lugar certo, vamos impor às empresas a responsabilidade ambiental que elas recusam (pois querem evitar os custos). Eu deposito remédios vencidos em ponto de coletas em farmácias ou postos de saúde; pilhas e baterias em ponto de coletas em mercados. 

Cartilha do Ministério do Meio ambiente: No Brasil, existem legislações que obrigam os fabricantes a dar um destino ambientalmente adequado a certos produtos, promovendo a responsabilidade de retorno do material pós-consumo (exemplo: pneus e baterias). Atualmente, a Política Nacional de Resíduos Sólidos ainda não foi aprovada e encontra-se em discussão pelo Governo Federal e pela sociedade. Na íntegra, veja AQUI.

RECICLAGEM: Meu lixo é todo separado, destino as latinhas para locais de reciclagem, plástico em sacolas separadas de outras sacolas de lixo orgânico, pois os catadores de recicláveis que passam na minha rua não precisam mexer no meu lixo para recolher as embalagens, geralmente coloco um dia antes da coleta, eles já meio que sabem passam na minha casa e pegam. O vidro eu coloco separado em caixas e aviso os coletores de lixo para que eles não se machuquem ou depósito em mercados grandes que têm coleta seletiva.

DOAÇÃO: Doamos muita roupa e sapato, geralmente de criança eu destino a pessoas que eu sei que precisam, de adulto eu dôo para bazares beneficentes, etc. Sim, doar roupas é um ato de preocupação com próximo e também reflexivo, pois se existem pessoas que precisam, é porque existem pessoas que não têm a vida digna o suficiente para comprar o básico para viver. Doamos brinquedos para creches públicas que, geralmente, não recebem brinquedos para as crianças. Sim, sempre que puderem levem brinquedos para creches públicas! Utensílios de cozinha eu doo para pessoas que precisam. Um lugar ótimo para doar é abrigo, em geral, principalmente, coisas de plástico: copos, pratos e vasilhas. DOE SEMPRE EM BOAS CONDIÇÕES!

VENDA: Descobri que vender coisas usadas é um bem social para pessoas que estão procurando objetos caros de segunda mão e para você que está precisando de dinheiro. No nosso caso, queremos mobiliar um quarto para nossos filhos e decidimos que íamos minimizar os custos do quarto vendendo coisas em boas condições que não nos serviam mais (máquina fotográfica, computador, objetos decorativos, brinquedos, etc). Sim, isso é dar um tiro (mesmo que de chumbinho) no capitalismo por um motivo: podemos nos virar sem ficar dependendo das Casas Bahia. Um comércio paralelo aos grandes centros é uma forma de nos ajudar e de criar meios alternativos de renda (Aliás, comprem coisas artesanais. Isso é lindo, socialmente responsável e ajuda, principalmente, mulheres empreendedoras!).

LIVROS: Eles são um caso à parte, nós demos três destinos diferentes: doamos para um sebo de um senhor aposentado que vende todos muito baratos para poder pagar o aluguel do salão, o objetivo dele é fazer os livros circularem; vendemos alguns e doamos para a biblioteca da Unifesp alguns livros clássicos que não nos interessavam mais, isso é ajudar aquela galera que depende de biblioteca, pois às vezes os clássicos não são suficientes, então, quanto mais melhor.

Enfim, estamos tentando combater a ideia do acúmulo. Essa ideia de que precisamos ter, ter e ter é um princípio do Capital, que quer nos empurrar seus produtos sem nenhuma responsabilidade sócio-ambiental. Estamos optando por costureiras de bairro, brinquedos artesanais, etc. É pouco? É, mas quem sabe sensibilizando-nos para o mal que essa economia louca do lucro nos faz, a gente ganhe mais adeptos nessa luta!

Teologia do Suficiente

Para terminar essa breve reflexão sobre a nossa responsabilidade sobre as coisas, gostaria de falar brevemente sobre um movimento que se chama Teologia do Suficiente. Basicamente, esse movimento prega que temos responsabilidade sobre o planeta, temos responsabilidade social de lutar pelas pessoas que não têm acesso à terra por causa da ganância do Capital e que temos que mudar nossos hábitos para um comportamento com responsabilidade sócio-ambiental. 

Temos que cumprir o nosso dever de anunciar a vontade de Deus e denunciar a ganância do Capital. Sim, a vontade de Deus é que todos tenham acesso à terra, à água e condições dignas de vida. Que a sociedade pare de maltratar a terra e os homens que dela precisam. Devemos ter o SUFICIENTE como limite para nossas vidas, sim, o suficiente para vivermos dignamente. Enquanto alguns tiverem menos que o suficiente e outros muito mais que o suficiente, temos trabalho a fazer! Porque alguns têm torneira de ouro em suas casas e outros nem água têm???

Mudar nossos hábitos passa por reconhecer nossos privilégios, lutar por uma vida justa e digna para todos e combater a usura e ganância desenfreada do Capital ( e quero ver quem me prova o contrário!). Vamos nos basear em Mateus 6, um texto lindíssimo sobre o suficiente e sobre o que realmente importa!


Mateus 6,26 Olhai para as aves do céu, que nem semeiam, nem segam, nem ajuntam em celeiros; e vosso Pai celestial as alimenta. Não tendes vós muito mais valor do que elas?

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