Biscoito ou bolacha?

Nesses últimos dias, duas grandes tragédias tomaram as redes: O desastroso rompimento da barragem em Mariana (causada pela privatização - em grande medida, mas não vamos falar disso, né?) e os ataques na cidade francesa, Paris.  Esse texto não será uma análise sobre as tragédias, que merecem uma fala honesta e não me acho capacitada para falar sobre esse tema com a precisão demandada - afinal, o que está por trás disso? Pretendo, então, falar sobre uma questão mais básica da convivência humana:  Estamos todos divididos?
Tenho estudado ultimamente  Deleuze, um filósofo pós-estruturalista, (é engraçado mencioná-lo nesse Blog, mas é a vida, risos) que propõe uma outra concepção epistemológica de análise: a lógica do “E”. O autor traz para o debate a noção de que o mundo não é "ou isto ou aquilo", mas que é “isto e aquilo”. Calma, leia antes.
Trago essa ferramenta, pois acredito que ela pode nos ajudar a sermos menos JUÍZES e mais cristãos. Nessa última polêmica, o mote era: “Vocês se compadecem da França, quando na verdade devem se compadecer de Mariana!” e podemos acrescentar: “Se fosse realmente brasileiro, se importaria com nosso país, não com os franceses!”. Bingo! Somos brasileiros, não? Porque não vi ninguém se compadecendo da morte de tantos Guarani-Kaiowás? - essa é uma questão para os midiáticos!



Já tratei da questão da indignação-seletiva aqui.  

Aprendi a lógica do "E" em Minas Gerais, na verdade - sorry, Deleuze. Fui a um congresso em Caxambú e fiquei hospedada na casa de um senhor que era flamenguista. Aí eu perguntei: "O sr. é carioca?", ele me disse que não, mas como na época em que era garoto os times mineiros não eram tão expressivos, como hoje, a molecada torcia para os times do Rio ou São Paulo. Ele era flamenguista, mas disse que torcia para o Cruzeiro, quando podia. Olha que bela lição, não é porque esse senhor é flamenguista, que ele desejava que o time do estado dele perdesse, pois ele também é mineiro, logo, cabe nesse balaio torcer para o Cruzeiro, também. Está estabelecida a lógica do "E". Flamenguista e Cruzeirense.
Você está tornando rasa uma questão seríssima! Na verdade, estou sendo didática. Na bíblia temos alguns exemplos da lógica do "E": Moisés era gago "E" um grande negociador; Jônatas era filho de Saul "E" amigo de Davi; A mulher que pergunta a Jesus sobre adoração, era Samaritana e Jesus responde: Vocês podem adorar em Jerusalém "E" em Samaria, o que importa é que seja em Espírito e verdade"; o próprio Jesus era Homem "E" Deus. 
Com isso não quero dizer que o "E" se aplica a tudo, afinal temos que nos livrar de muitas coisas na caminhada cristã: não podemos ser Cristão e Assassino, Cristão e incitador ao ódio, etc. O problema da doença do "ou", que aflige a nossa geração, é: "Ou você se compadece de Paris ou de Mariana"; "Ou você é homofóbico, ou não é cristão"; "Se você defende um estado laico, não é cristão", "Ou você expulsa tais e tais pessoas da sua igreja ou ela estará contaminada". Jesus não seria cristão por essa lógica do "OU". A maior prova da lógica do "E" é: mesmo sendo nós pecadores, se aceitarmos a Cristo, somos filhos d'Ele: pecadores "E" filhos.
Ao tratarmos essas questões dessa forma, estamos caindo na armadilha: de julgar o que é, ou não, mais importante. Será Mariana mais importante do que a tragédia em Paris? Engraçado que ninguém se importou com as recentes mortes na Nigéria - mais de 8 mil sob custódia do Estado. Temos tratado a questão de Mariana e Paris como “é biscoito ou bolacha” Não, não é Mariana ou Paris, é o ser humano. O mundo precisa mudar! O mundo precisa do verdadeiro Jesus!

Quanto ao dever de nos importarmos mais com os brasileiros do que com pessoas de outras nações, deixo um texto bíblico de fé é humildade:


26Ao que Jesus lhe respondeu: “Não é justo tirar o pão dos próprios filhos para alimentar os cães de estimação”. 27Ela, porém, replicou: “Sim, Senhor, mas até os cães de estimação, comem das migalhas que caem das mesas de seus donos”.28Então Jesus exclamou: “Ó mulher, grande é a tua fé! Seja feito a ti conforme queres”. E naquele exato momento sua filha ficou sã. 

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